Tem gente que confunde espontaneidade com irreverência. O espontâneo, sagazmente, sabe onde está escondida a ironia de um elogio.
Para ele, a desobediência não é o principal pecado e nem a obediência sua principal virtude. Ele é aquele que seu cachorro acha que é.
Quem não dá um escorregão de mau humor por vezes… Mas, para o espontâneo a necessidade de dizer é como motor de carro que falha e acelera sem a intervenção humana. Ou seja, os ouvidos dos outros não são mais importantes do que seu incontido desejo da observação. Não chega a ser narcisismo, mas uma espécie de centralização em si mesmo.
As velhas máximas de que “sou amado porque amo” ou “amo porque sou amado”, não fazem parte de seu espaçamento natural. Isso lhe dá, por certo, um sentimento crescente de competência, acelerando a ilusão de tornar-se sua própria autoridade, dispensando as demais. E esse gatilho momentâneo satisfaz suas próprias e, talvez, inconscientes necessidades.
Eu sei que a facilidade não faz parte da vida adulta. É uma eterna disputa de pegar a janelinha quando entramos em um ônibus. A vida adulta nos faz competitivos e isso não é e nunca foi proibido. Mas para o espontâneo, ao expor sua opinião sobre tudo que encontra pela frente e supondo que ela prevaleça, pode, por certo, constranger os demais e, o próprio, procura e experimenta um sentimento de participação nem sempre compreendido.
Conheço muitos deles. E não desgosto porque a verbosidade excessiva, e por vezes inconveniente, talvez emergiram de vivências anteriores e provocam exigências em sua vida adulta. Quando muito, vejo uma imaturidade emocional que o conduz a uma perturbação em sua vida social, pessoal e íntima parecendo a nós, ouvintes, grosserias superficiais e irresponsáveis.
Uma coisa é certa. O espontâneo, por vezes, traz de volta uma mosca azul nos fazendo refletir sobre fatos, atos e atitudes que só ele vê e que, inconscientemente queremos ocultar.